sexta-feira, 3 de abril de 2015
Jack Brabham
Ele é único.
Ninguém nunca vai conseguir igualar o que fez Jack Brabham.
Apenas ele chegou ao título mundial pilotando um carro com seu nome.
Esse piloto / construtor é um figura especial.
As estradas sem lei da Austrália da sua juventude foram sua escola.
Circuitos onde apenas os mais fortes poderiam vencer.
Chegou a Inglaterra movido pelas promessas da Cooper.
Grande decepção.
Na garagem da equipe não havia um carro para Brabham.
Apenas as peças.
Mas isso não era problema.
Jack foi moldado pelas dificuldades.
Mecânico da Força Aérea, o sujeito entendia do riscado.
Com sua contribuição, a Cooper construiu o seu motor para a Fórmula 1.
Na sua cabeça já havia o objetivo de montar sua própria equipe.
A ideia estava lá.
Em silêncio, ainda como piloto da Cooper, fez sua primeira Brabham.
Ele podia.
Não somente por suas habilidades.
Jack falava pouco.
Reflexo de sua austeridade.
Não era dado a festas.
Gostava de comer em casa.
Nada de noitadas.
Betty, a esposa, era um apoio.
Uma mulher que sabia até construir peças!
Além disso Brabham descobriu cedo que dinheiro não gosta de claridade.
Era bem seguro em tudo que fazia.
Quando colocou o carro de sua equipe no grid pela primeira vez foi o passo
inicial numa jornada pelo deserto.
Por muito tempo esqueceu o que eram as vitórias.
Isso poderia abater qualquer um.
Ainda mais um bicampeão mundial.
Mas esse orgulho dos homens comuns não existia em seu coração.
Ele gostava do processo.
Das descobertas e evoluções.
Em 1966 veio a recompensa.
Ele alcançou seu terceiro título.
Um prêmio para aquele que, entre todos, mais amava construir e competir.
Os que conviveram de perto dizem que ele foi um dos melhores pilotos de
todos os tempos.
Mas pilotava sempre abaixo de sua capacidade.
Por motivos óbvios.
Diferente dos outros, parte de sua força ele deixava durante a semana dentro
da oficina.
Inteligente, percebeu o momento que seu jeito de fazer as coisas não daria mais
certo perante os novos tempos que chegavam a Fórmula 1.
Assim vendeu a equipe e voltou para casa.
Para a Austrália.
Para uma merecida aposentadoria.
Esse mítico piloto terminou seus dias praticamente surdo.
Jack nunca protegeu seus ouvidos.
Ele dizia que somente dessa forma poderia entender os segredos ditos pelos
barulhos de seus motores.
Postado por
Humberto Corradi
às
09:00
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15 comentários:
É engraçado como as estórias de pilotos do passado fazem as da maioria dos pilotos atuais ficarem tão isossas... Tem exceções, é claro (Mansell, Hill, Alex Ribeiro...), mas acho que estou ficando velho mesmo.
Belissimo texto, Corradi.
Realmente, antigamente o AMOR falava mais alto, emocionante a história do BRABHAM Corradi!!!
Perfeito, Corradi. Jack Brabham é demais. Um dos maiores pilotos / construtores da F1.
Mario
O velho Jack é realmente uma das grandes figuras do automobilismo. Por uma incrível coincidência, hoje mais cedo, eu fiz uma postagem justamente sobre o momento oposto a esse que você falou: a decadência da Brabham... De qualquer forma, as histórias do Jack e da equipe, são fantásticas, e devem sempre ser contadas!
Black Jack foi mesmo um dos melhores, e certamente um dos mais subestimados pilotos da F1. E olha que não faltou muito para ele beliscar o título em 70, quando perdeu dois GPs na última volta.
É legal saber que seus feitos, assim como os dos demais grandes nomes dos 50/60, estão gravados de forma indelével na história da F1. Ninguém mais conseguirá vencer como piloto e construtor, como Brabham, assim como não haverá outro Hill, com sua tríplice coroa (e mais um bicampeonato na F1), outro Fangio, com seus 5 títulos por 4 equipes diferentes... isso não se perde nunca mais.
Que belo perfil do Brabaham, Corradi! Uma figura inteligente e estoica da F1.
Outros e maravilhosos tempos, onde sujeira de graxa era motivo de orgulho e não motivo de ocultação.
Carlos Henrique
A história dele é realmente incrível...
Sou um jovem de 30 anos, então infelizmente não assisti aos maiores pilotos da F1... tive a oportunidade de ver Senna, Prost, Piquet... mas ainda assim não é a mesma coisa...
Jack competiu com os melhores, Clark, Stewart, P. Hill, Gurney, G. Hill, Moss, os irmãos Rodriguez, Rindt, ele teve mais cojones do que qualquer piloto na história da F1, no auge de sua carreira quando era bicampeão, colocou a viola no saco e montou sua própria equipe para competir com Ferrari's, Maseratti's. Matra's, Lotus e outros nomes conhecidos e foi premiado por seu pionerismo... um atleta fantástico...
Me desculpem os Schumchistas e outros que acham que números valem mais do que fatos... mas fica bem fácil ganhar um monte de campeonatos sem ter adversários, bater recordes com 20 corridas por temporada... fazer um milhão de pontos quando cada vitória vale 25...
A F1 hoje tenta desmistificar os grandes do passado... Fangio, Moss, Ascari, Brabham, G. Hill, Clark, Stewart, Rindt, E. Fittipaldi, Lauda... paro por aqui, pra mim a era dos mitos se encerra em 1977 com o segundo título de Lauda...
Depois veio Piquet, Prost, Senna, esses são os grandes que adaram próximos aos mitos em seus feitos... semi-deuses do panetão da F1...
E depois deles os reles mortais...
Não é a toa que Nelsão o considera o maior de todos, pelo conjunto da obra
Excelente texto!
Não entendo como ainda não foi feito um filme sobre o grande black jack...
David...
Faltou Emerson....abs
Mais um que vai formar no grid do céu, que a esta altura está muito mais interessante que o da F1 atual, esse foi grande, imenso, enorme, piloto e construtor.
Que toquem os sinos, todas as homenagens a Jack Brabham !!
Jack Brabham passou hoje de mito das pistas a lenda do automobilismo ! Reverenciemos Black Jack .
Cacto
cactof1@blogspot.com.br
Corradi, não sei o que você faz para viver, mas seus textos são os mais modernos - antenados com os novos tempos - que já li. Frases curtas, sem enrolação. Você é profeta? Abraço.
Tuta
Este é um dos melhores textos já produzido pela Cerebralia Corradis. Faz a gente amar o Jack em segundos, se nunca tivesse ouvido falar dele.
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