Projeto Verão sem a participação internacional de Paulo Alexandre Teixeira não
seria a mesma coisa.
Jornalista.
Correto, esclarecido.
E meu amigo!
Daqueles de trocar ideias sobre o que acontece no mundo do automobilismo.
O comandante do Continental Circus (clique aqui) já tem até livro publicado!
Dessa vez sugeri que falasse sobre Portugal e a Fórmula 1.
A expectativa em torno do talentoso Felix da Costa.
E o Speeder76 (como é conhecido nas redes sociais) colocou as cartas sobre
a mesa.
Vocês verão que diz muito o título do texto originado além-mar.
Dentro de uma visão original.
Já falei demais.
Com a palavra, do outro lado do Atlântico, Paulo Alexandre Teixeira.
A
DECEPÇÃO E A ESPERANÇA
Por Paulo Alexandre Teixeira
Quando a Red Bull
anunciou inesperadamente, naquela segunda-feira de outubro, a
entrada de Daniil
Kvyat para o lugar da Toro Rosso, as ondas de choque foram sentidas
um pouco
por todo o mundo, mas especialmente em Portugal, onde os especialistas e os
fãs
já tinham como dado adquirido que Antonio Félix da Costa iria fazer voltar o
nome
do país ao estrito e elitista mundo da Formula 1, oito anos depois da
presença de Tiago
Monteiro.
Muitos esperavam que com o regresso de um piloto português
à elite do automobilismo
mundial, existisse uma procura e um despertar do mundo
a este “país à beira-mar plantado”,
na ponta da Europa, e vingasse de uma certa
forma as frustrações de Alvaro Parente e
Filipe Albuquerque, que não
conseguiram chegar a essa elite, apesar de terem prometido
muito nas categorias
de promoção, especialmente Parente, campeão em 2005 da Formula 3
inglesa e das
World Series by Renault, dois anos depois, colocando em sentido um jovem
alemão
chamado Sebastian Vettel…
Mas este último
episódio veio recordar as frustrações de um pais que não há muito tempo
esteve
na rota da Formula 1, quer em termos de pilotos, quer em termos de calendário. E
não percebe porque é que têm um circuito de última geração e a Formula 1 não aparece
por lá.
Provavelmente não entende que o que faz mover as coisas é o dinheiro, e num pais
onde não o tem, uma personagem como Bernie Ecclestone não
vêm ter conosco
“pelos nossos lindos olhos”.
Mas essa é a realidade: não somos
um país asiático, com 7,5 por cento de crescimento ao
ano, com petróleo e
outros recursos valiosos, logo, com dinheiro para derreter e disposto
a pagar
muitos milhões para ter a Formula 1, qual novo-rico.
Voltando atrás…
Naquela segunda-feira, como é sabido, todos
foram apanhados de surpresa... ou nem tanto.
Antes, quase ninguém ouvira falar
de Daniil Kvyat. Tanto que
quase todos não acertaram à
primeira na maneira como era escrito o apelido do
piloto russo de 19 anos, nascido a 26 de
abril de 1994.
Uma terça-feira, quatro
dias antes de Roland
Ratzenberger passar à
história no circuito
de Imola. Aliás, essa era uma pergunta que gostaria de
fazer aos pais dele: nos intervalos
da sua observação no berço, estariam a ver
o Grande Prémio de San Marino desse ano?
Acho que não terei essa resposta, não
tão cedo.
Tinha recentemente ficado atento às noticias sobre ele, mas
julgava que tinha a ver com o
futuro próximo, para 2015, provavelmente como um
eventual substituto de Jean-Eric
Vergne.
Kvyat têm talento - venceu a Formula Renault Eurocup 2.0 Alps em
2012 - e luta pelo
título da GP3 com o argentino Facundo Regalia.
Aliás, ambos
estão separados por sete pontos.
Mas ele não vai para a formula 1 por talento -
que o têm.
Bem pelo contrário: fala-se que a Toro Rosso tinha a vaga à venda
por meros 18 milhões
de euros.
O aviso já tinha sido dado um dia antes pelo
piloto Luiz Razia no Twitter.
Mas então porque é que a
Red Bull venderia uma vaga dessas quando têm dinheiro a rodos,
perguntam?
Pois
bem, têm a ver com o aumento dos custos. Um motor Renault vai valer 25 milhões
de euros em 2014, e com o aumento de custos na Formula 1, as equipas médias
iriam
ficar aflitas.
Logo, um pouco de "ajuda extra" ajudaria imenso
nas contas de uma categoria que a
cada ano que passa, é cada vez mais
artificial, fechada e sobrevalorizada.
Muitos também vão dizer que a culpa é do piloto, que não
conseguiu superar na sua
categoria o dinamarquês Kevin Magnussen e o belga
Stoffel Vandoorne.
É certo que são dois excelentes pilotos, mas não é por aí.
O
grande culpado - a ser apontado, claro - é a estrutura esquizofrênica da Red
Bull
Junior Team, comandada pelo ex-piloto austríaco Helmut Marko.
Félix da
Costa não passou de herói a zero num ano.
É certo que teve uma má temporada,
comparado com a "meia temporada" de 2012,
mas parece que isso é mais
do que suficiente para chutar o rabo ao piloto, como se
fosse um animal doente.
Mas sabem de uma coisa? Nenhum dos pilotos que andou ou anda na Formula 1
venceu a World Series by Renault.
Nem Jaime Alguersuari, nem Sebastian Buemi,
nem Daniel Ricciardo, nem Jean-Eric
Vergne. Ganharam títulos na Formula 3, é
certo, mas isso não chega.
Mas era algo que tinha receado quando soube da entrada de
Félix da Costa no programa
de jovens talentos da Red Bull.
Sempre achei que era
um presente envenenado, dado o historial do tratamento que Marko,
Tost e
companhia deram aos pilotos que lá andaram.
Lembram-se ainda de como é que
Sebastian Vettel chegou à Formula 1?
Se não recordo-vos: foi quando o americano
Scott Speed foi sumariamente despedido
depois de ter andado à pancada com Tost
na famosa corrida de Nurburgring...
Na altura, em junho de 2012, escrevi isto no meu blog:
"Tost e Marko tem ambos uma obsessão em
particular nestes últimos três anos:
encontrar um outro Sebastian Vettel o mais
depressa possível O piloto alemão,
agora bicampeão do mundo,
conseguiu a proeza única de vencer com aquela
equipa no GP de Itália
de 2008, e desde então, a fasquia foi colocada de forma
muito alta,
quase impossível de alcançar por parte dos que seguiram. Mesmo
pilotos consagrados como Sebastian Bourdais sentiram um pouco a pressão de
vencer a qualquer custo de Tost e Marko. E Scott Speed, piloto americano da
marca em 2007, saiu a mal da equipa, depois de um incidente na pista de
Nurburgring onde após ter saído de pista, não aguentou os insultos de Franz
Tost e partiu para a agressão.
E nem o palmarés salva: Jaime Alguersuari, foi campeão da Formula 3 britânica
em 2009, por exemplo.
Quando ele e Sebastien Buemi foram sumariamente
despedidos da Toro Rosso
por não não conseguiram igualar a fasquia, ambos
ficaram "com uma mão à
rente e outra atrás". Buemi ainda se aguenta
como terceiro piloto da Red Bull,
e um lugar na equipa da Toyota nas 24 horas
de Le Mans, mas tal coisa é mais
para que o pessoal da Formula 1 não o esquecer.
Jamie Alguersuari faz agora
de piloto de testes na Pirelli, mas o objetivo é o
mesmo: que não o esqueçam,
mesmo que ele tenha 22 anos de idade. É que para estes
dois pilotos, a saída
forçada da "cantera" da Red Bull significou que
ficaram também sem opções
e sem patrocínio.
(...)
Mas, como se costuma dizer, toda a glória é efémera. A partir deste fim de semana,
Félix da Costa será pressionado para apresentar resultados de
imediato.
E a não ser que não queira acabar como Felipe Albuquerque, que no final
de 2008
foi convidado a correr no Japão, como forma de dizer por outras
palavras que os
seus serviços não eram mais adequados, ele vai ter de mostrar
que mais do que talento,
tem de ter cabeça fria, rápida adaptabilidade e
capacidade de mostrar resultados no
imediato. É uma prova de fogo, se quiser
provar que tem estofo para a Formula 1."
Dias depois daquele
anuncio, escrevi o seguinte num artigo que acabei por não publicar no
meu blog:
“Depois disto tudo, gostaria de ouvir a reação da boca dele
sobre isto tudo,
e sobretudo, o que vai ser o seu futuro.
Ele têm 21 anos e sei
que a família apostou todas as suas fichas nele e nesta
oportunidade da marca
de Salzburgo para conseguir algo que apenas quatro
pilotos neste país
alcançaram: ser piloto de Formula 1.
Há perguntas para responder: a Red Bull
acenou com alguma coisa para o
futuro próximo ou a ligação terminou pura e
simplesmente?
Se a última hipótese for a real, então creio que ele está no
ponto crucial para
a sua carreira. Com as vagas na Formula 1 a serem cada vez poucas e com
o
dinheiro a contar cada vez mais no critério de entrada - penso na Force
India,
mas é complicado - acho que seria a melhor altura de fechar de vez a
hipótese
dos monolugares e tentar a sorte na Endurance, onde se vai mergulhar numa
nova era.”
Na
altura, achava que ele acabaria como todos os outros na “cantera Red Bull”:
cuspido
e deitado fora sem apelo, nem agravo, mas mais surpreendente ele ter
sido preterido por
um adolescente russo na categoria máxima do automobilismo,
foi eles terem decidido ficar
com ele para a temporada de 2014.
No passado dia
5 de dezembro, a Red Bull anunciou que Félix da Costa será um dos dois
terceiros pilotos da marca na Formula 1, ao lado de Sebastien Buemi.
E para ele
não estar parado, decidiram também lhe dar um lugar no DTM, o campeonato
alemão
de Turismos, a bordo de um BMW, para competir na temporada de 2014.
Surpresos?
Nem tanto.
Já aconteceu antes, mais concretamente em 2006, quando a marca
alemã, que estava na
Formula 1, deu um lugar de terceiro piloto a um jovem
alemão, de seu nome Sebastian
Vettel.
Aliás, se ainda se recordarem, foi ao
serviço da BMW Sauber que Vettel fez a sua primeira
corrida na categoria máxima
do automobilismo, no GP dos Estados Unidos, poucos dias
depois de Robert Kubica
ter tido o seu primeiro grande acidente, no Canadá.
E Vettel deu-se bem: levou
o carro ao oitavo lugar final, conseguindo o seu primeiro ponto.
Quatro dias depois, em Lisboa,
explicou em pormenor para a imprensa portuguesa o que
significa este desdobramento
de tarefas, e que isso não o vai prejudicar - ou matar - o seu
sonho de
alcançar a Formula 1.
"Este objectivo de entrar para a Fórmula 1 não
morreu.
Antes pelo contrário, continua muito aberto", começou por
dizer.
"Vou dar o meu melhor, porque a Fórmula 1 vai ser o meu
objectivo a curto prazo".
E têm consciência de que esta tarefa
não será fácil:
"As expectativas
vamos ter de as destapar à medida que formos andando para a
frente, mas
obviamente, como piloto profissional que sou, e ambicioso, o meu
objectivo é
ganhar algumas corridas, entrar no pódio, mas é complicado designar
agora os
nossos objectivos", sustentou.
"Acho que pode ser uma época em grande.
Não vai ser
fácil [estar nas duas
competições], vou ter uma
época complicada, muito
ocupada e vou ter que me estruturar muito bem, ter a
minha vida bem organizada,
porque vou estar a lidar com duas equipas ao mais
alto nível", lembrou.
Recordo que nem todos
ganham no DTM à primeira. Nem pilotos mais experientes na
Formula 1 como Mika
Hakkinen, Jean Alesi e Heinz-Harald Frentzen o conseguiram, e
mesmo um piloto
experimentado como Augusto Farfus, por exemplo, apesar de ter ganho
na sua
primeira temporada, demorou tempo para se adaptar.
E a grande esperança é de
que se aproveite do mal dos outros para ascender ao lugar que
mais deseja.
E
dos três que estão no programa – Sebastian Vettel parece estar num pedestal
inalcançável –
parece que o mais ameaçado é Jean-Eric Vergne.
E essa é a grande
esperança de 2014 para o piloto português alcançar o seu sonho.
7 comentários:
Um abraço do outro lado do oceano Speeder!
Se a gente reclama aqui sobre o que acontece com nosso automobilismo, Speeder nos faz ver que lá é um pouco pior.
Espero que o panorama mude. Até porque um piloto luso abriria as portas para a volta dos autódromos do país à categoria.
E eu adoraria ver Algarve ou Portimão
A Formula Um é cada vez mais chata, artificial, fechada e sobrevalorizada, mas tem um porém...ninguém quer ficar fora da festa. Nasr esta na mesma situação delicada que Félix da Costa, quando tinha que emplacar nas categorias de base, empacou, esse foi o problema, não mostraram ser bons o suficiente para garantir vaga na F-1. Toro Rosso procura um piloto fora de série como Vettel, se Nasr e Félix da Costa não conseguiram destaque nas categorias de base em 2012/13, evidente que as chances diminuem na F-1. Pior para Nasr que não faz parte de programa de pilotos de nenhum time. Nasr e Coletti jogaram fora um título importantíssimo na GP2 em 2013(Félix da Costa pouco fez durante o ano), mas Coletti nunca mostrou expressão nas categorias de base. Nasr e Félix da Costa já possuíam títulos, o problema é que ficaram devendo nas duas últimas temporadas, isso custou caro. O importante é estar sempre em alta, sempre aparece uma boa oportunidade na Formula 1. O português acabou tomando "baile" de Kviat que mostrou ser o piloto do "momento" nas categorias de base, a carreira do russo se mostra muito superior ao do brasileiro e português, basta comparar o link abaixo.
http://en.wikipedia.org/wiki/Stefano_Coletti
http://en.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_F%C3%A9lix_da_Costa
http://en.wikipedia.org/wiki/Felipe_Nasr
http://en.wikipedia.org/wiki/Daniil_Kvyat
Kviat não comprou vaga na Toro-Rosso, conquistou com bons e ótimos resultados nas últimas temporadas. Uma gigante como Red Bull não precisa apelar para pilotos pagantes(faturamento de 21 bilhões de euros, com a venda de mais de 3 bilhões de latas). Dentro da F-1, a Toro Rosso marca seus pontos faturando milhões, ainda tem suporte da matriz RBR que fatura horrores ano a ano com títulos. Um motor Renault vai custar 25 milhões em 2014? Isso não é problema para a Toro Rosso. Luiz Razia(outro frustrado) pelo Twitter disparou que a Toro Rosso tinha a vaga à venda por meros 18 milhões, isso é verdade ou mentira? Se for verdade, então vale também para Félix da Costa, se conseguisse vaga na Toro seria como piloto pagante. Kvyat vai ter vida fácil em 2014? Não, vai ser um ano de aprendizado, mas isso também iria acontecer com Nasr ou Félix da Costa. Desempenho melhor que o russo antes da F-1, só Nico Hülkenberg e Valtteri Bottas! Mas é aquela coisa, se pegar carro ruim na F-1, não tem como mostrar serviço. Foi o caso dos pilotos da Williams em 2011/13. Nem a experiência de Barrichello salvou o time em 2011, Pastor ainda era novato não tinha obrigação de salvar o time. Williams em 2011/13 foi um fiasco, mas os menos culpados foram os pilotos. Massa vai pegar uma pedreira em 2014, ainda pode tomar sufoco de Bottas na equipe, aconteceu com Barrichello em 2011, pode acontecer com Massa em 2014.
http://en.wikipedia.org/wiki/Nico_H%C3%BClkenberg
http://en.wikipedia.org/wiki/Valtteri_Bottas
O que seria de Félix da Costa sem o programa de jovens pilotos da Red Bull? Seria apenas mais um piloto entre milhares em busca de um título nas categorias de base...
Texto Brilhante!
Percebe-se que além da lingua, plíticos corruptos, temos a crise no automobilismo em comum!!!
Ah, saudades de Estoril, um dos meus preferidos. Mas, como citaram Algarve, fiquei curioso e resolvi visitar o site da pista:
http://www.autodromodoalgarve.com
A estrutura e todo resto me pareceu ser muitíssimo interessante.
Torço para que os portugueses consigam ter o Félix como titular em 2015. O rapaz é muito bom.
Isso é qualidade de informação.
Sempre gostei de ler os textos do Speeder.
Emerson Fernando
Fórmula Retrô
Magistral o texto do Anônimo postado em 08 de janeiro de 2014 13:52!!
Não deixou pedra sobre pedra e "colocou os pingos em todos os 'is'" da questão!!
Parabéns pela precisão suíça!!
Faltou só o nome para fechar com chave de ouro!
Abraço.
Zé Maria
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