O campeão da temporada de 1961.
O americano Phil Hill (nenhum parentesco com Graham Hill) apreciava
as pistas.
Os desafios dos traçados.
Não ligava para o circo que estava no entorno.
Seu prazer era pilotar em alta velocidade.
De preferência sozinho.
Numa pista que não estivesse suja de óleo.
Sem ninguém ao lado para atrapalhar.
A competição fazia mal.
A mudança em sua personalidade foi uma prova disso
Após sete anos na Fórmula 1 ele se tornou um sujeito desconfiado.
Nervoso.
Egoísta.
A luta era tão intensa que não existia espaço para fazer amigos.
Só havia adversários.
E um era especial.
Enzo Ferrari.
O Commendatore sempre amou aqueles que corriam riscos.
Os devotos da Scuderia Italiana.
Pilotos como Tazio Nuvolari, Gilles Villeneuve.
Hill não era assim.
Mesmo tendo vencido três vezes as 24 horas de Le Mans.
E sido campeão na Fórmula 1.
Todos os feitos a bordo de uma Ferrari.
De nada adiantou.
O coração de Enzo não se movia em favor do ianque.
"Não era seu tipo de piloto.
Ví muitos morrerem defendendo a Scuderia.
Ele amava os intrépidos, mas eu não queria ser mais um dos seus cordeiros
sacrificados."
Certa vez, em 1967, ele foi aos Estados Unidos durante o inverno.
Como fazia sempre.
Porém, diferente das outras vezes, nunca mais retornou à Fórmula 1.
Não havia mais vontade.
Parece que as corridas, e tudo que acontecia ao seu redor, haviam dizimado
o piloto.
O sentimento.
"Esperava outra coisa.
Lá dentro você só quer vencer.
Não pensa em mais nada..."
Lembrei da Bíblia.
"Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
4 comentários:
Pra amargar mais um pouco essa breve biografia de Phil Hill, o seu único título na Formula 1, em 1961, foi conseguido após seu companheiro de equipe abandonar o GP da Itália. Com isso, Phil Hill não poderia mais ser alcançado na pontuação.
Acontece que seu companheiro de equipe era Wolfgang Von Trips, um dos 'cordeiros sacrificados' por Enzo ou pela Ferrari... O acidente fatal de Von Trips ocorreu no final da segunda volta do GP. Phil Hill só foi informado da morte de Von Trips após o término do GP... o título para a Ferrari era mais importante...
Certamente um título amargo...
um abraço,
Renato Breder
Título amargo certamente Renato. Mas àquela época em que honra tinha um significado, creio que Hill empenharia-se para ganhar como forma de homenagear o companheiro Von Trips, exceto que pudesse fazê-lo campeão póstumo.
Sou fascinado pela história do esporte a motor, sobretudo pela postura dos 'cavaleiros' modernos. Como sempre, ótimo texto Corradi!
Abraço.
Por essas e outras que não gosto da Ferrari, idealismo que continua até hoje, rebaixar os pilotos.. esquecem de que na formula 1 é um conjunto carro/piloto um não é nada sem o outro
Belo texto, Corradi. E é mesmo curiosa essa relação entre Enzo Ferrari e Phil Hill, com o americano fazendo de tudo para ser aceito e, mesmo assim, recebendo em troca um quase desprezo do Comendador. Com um título de F1 e três 24 Horas de Le Mans na bagagem, só ganhou um parágrafo na biografia de Enzo, "Le mie gioie terribili".
Na verdade, curioso era a forma com que Enzo Ferrari lidava com seus pilotos, em um bullying constante - e ainda assim havia filas deles em sua porta, buscando seus carros.
Abs
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