terça-feira, 20 de junho de 2017

Hartley



























Não posso negar.

Eu tenho uma visão bem dura sobre o World Endurance Championship.

Acho pouco acessível.

Pelo formato.

Confunde.

Os construtores aparecem bem mais que os pilotos.

Isso dificulta.

Pois falta a referência.

Há tropeços até na transmissão ao tentar identificar quem está
conduzindo o carro em certo momento.

Outra.

Uma prova.

Não é um produto que consegue um acordo decente com a
televisão.

Por isso é facilmente encontrado ao vivo na internet.

Fato.

O Endurance não tem uma audiência absurda e muito menos
cobertura da mídia.

Quer um exemplo?

Dois anos atrás Mark Webber se sagrou campeão mundial.

Você estava presente nas 6 horas de Xangai quando a Porsche
garantiu seu título?

Nem qualquer jornalista australiano compatriota de Webber.

Não estou implicando de forma gratuita com a categoria.

(que é trabalhosa e possui uma história muito bonita)

Mas é preciso dimensionar de forma correta as coisas.

Enquanto tudo que acontece na Fórmula 1 é notícia no planeta,
a WEC precisa pagar para divulgar seus feitos.

Pra piorar, a LMP1 com seus motores híbridos se tornou excessivamente
custosa.

Como disse de forma cirúrgica o di Grassi.

"A LMP1-HY tem um modelo de negócio muito caro para pouco
retorno.

Então as montadoras estão saindo e dificilmente outras entrarão."

OK.

Não vamos ficar apenas no mal.

A tradição fala alto.

Comove o orgulho francês com as 24 horas de Le Mans.

Nurburgring, Spa-Francorchamps...

E faz pensar também.

Brendon Hartley fez parte do trio que conduziu o bólido da Porsche
que venceu a mais famosa das provas de maratona automobilística.

Após ser criado respirando motores em sua terra natal, esse piloto
da Nova Zelândia veio tentar sua sorte na Europa.

Adotado pelo programa Red Bull, chegou ao título da Fórmula
Renault 2.0 em 2007.

Hartley tinha 18 anos na época.

Campeonato que teve participação de nomes como Daniel Ricciardo,
Fabio Leimer, Roberto Merhi, Oliver Turvey, Jules Bianchi e Charles
Pic.

Significativo.

Pois é um torneio que teve pilotos importantes que levantaram a
taça ao longo dos anos.

Podemos citar alguns.

Kamui Kobayshi, Valtteri Bottas, Stoffel Vandoorne, Pierre Gasly
e Lando Norris.

Após a conquista, a Red Bull deu trabalho para o rapaz no ano
seguinte.

Testes na Toro Rosso, exibições e trabalho no simulador de Milton
Keynes.

Em 2009 ele se tornou o terceiro piloto das duas escuderias da
turma do energético.

Parecia que era uma questão de tempo para ele ser titular na
Fórmula 1.

Mas seus resultados insípidos em 2010 e a alta concorrência interna
no programa da Red Bull consumiram suas chances.

Jaime Alguersuari, Daniel Ricciardo e Jean-Éric Vergne se tornaram
favoritos.

Hartley insistiu.

Patinou na GP2 por três temporadas.

Em 2012 foi convidado para ser piloto de teste da Mercedes
na F1.

(foto acima)

Ficou no posto por dois anos.

Nesse período, Hartley começou sua trajetória no Endurance.

Em 2014 já estava defendendo a Porsche.

Se tornou campeão mundial na WEC no ano seguinte ao lado
de Webber.

E em 2017 venceu em Le Mans.

Fincou sua bandeira no topo da categoria.

Como eu disse, fiquei pensando em tudo que esse rapaz passou.

Ele tem mais ou menos a mesma idade de Sebastian Vettel.

O supra-sumo da metodologia de Helmut Marko.

Quatro títulos mundiais na categoria máxima do automobilismo.

Mas e o resto?

Alguersuari, Vergne, Felix da Costa, Juncadella, Aleshin...

Onde estão?

Não devemos esquecer de Ricciardo, Verstappen, Kvyat e Sainz Jr.

Algum desses conseguirá repetir o brilho de Vettel?

Todos conseguirão pelo menos um título na Fórmula 1?

Difícil, não?

Tem que ser cascudo.

Brendon Hartley não fez escolhas.

Somente ficou com uma das opções que sobraram após seu sonho
da F1 se extinguir.

Por fim, se colocou no lugar certo e na hora certa.

Venceu.

E provou uma coisa.

Nada dessa bobagem de que há vida fora da Fórmula 1.

A palavra aqui é luta.

Ação.

Resistência.

Mesmo que tudo pareça estar contra você.

A tribulação, a dificuldade, produz a paciência.

Por sua vez, a paciência nos traz a experiência pra lidarmos com os infortúnios.

E a experiência se transforma em esperança.

Com segurança.

Pois não há mais confusão ou incertezas.

Brandon Hartley sabe onde está.

Seu nome está escrito ao lado de Graham e Phil Hill, Ickx, McLaren, Shelby,
Froilán Gonzalez e Nuvolari.

E, curiosamente, Helmut Marko (o vencedor de 1971).

Interessante.

Era para ser apenas um registro.

Porém, apesar de tanto tempo depois de ter sido feita, a imagem abaixo
continua viva.

Pois segue ainda adquirindo novos significados devido às vitórias
que estão sendo acrescentadas à mesma.

Isso se chama fazer seu próprio caminho.

Hartley não aceitou qualquer rótulo imposto.

Continuou se definindo pelos seus feitos.

E, assim, vem fazendo história.

Inspirador.


12 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito Corradi, belo texto, e assino embaixo quanto ao WEC.
Abraço
Glaucio

Plinio disse...

Respondendo a pergunta, Ricciardo e Verstappen serão campeões se tiverem carro pra vencer. Capacidade eles estão mostrando. Evidente que futurologia é sempre um risco absurdo, mas o trabalho desses pilotos indica isso. Se vai acontecer é outra questão. Sainz Jr. também é considerado bom piloto. Pelo que se vê a RBR demonstra interesse em mantê-los, o que indica alguma confiança considerando o histórico do grupo que costuma fazer a fila andar até encontrar alguém que em quem eles realmente acreditem.

Társio disse...

Belo texto Corradi!

Corridas de longa duração são sempre dificeis de acompanhar. Eu sempre priorizo as 24 horas de Le Mans & Daytona, e as 12 horas Sebring & Bathrust, e claro a Indy 500 nos monopostos. Fui em 2 das 3 etapas do WEC em SP e foi sensacional! Mas é claro que o foco do grande público é e será sempre a F1. Aqui no Brasil, hoje talvez a MotoGP esteja com melhor visibilidade que a F1 entre os jovens.

Ontem com a desclassificação do Nelsinho Piquet, eu fiquei acompanhando os comentários a respeito, e a quantidade enorme de pessoas que ainda o detesta por Singapura 2008. Tudo bem que num geral são apenas espectadores de F1, e não fãs de automobilismo - é preciso sempre separar estas 2 categorias.

Mas fiquei aqui pensando. O que seria necessário para o Piquet Jr limpar sua imagem perante o grande público? Conclui que apenas um titulo na F1 seria suficiente. Ele pode vencer Le Mans, Indy500 e qual categoria for, que não irá reparar o dano.

Abç
Tarsio

OBS - Em tempo. O Brandon Hartley é ótimo piloto. Era sem dúvida o mais rapido do trio da Porsche com o Mark Webber. Mas aqui do BR temos o Pipo Derani que vem comendo pelas beiradas e vai longe...

Unknown disse...

Corradi as vezes voce é muito extremista...

Dizer que o WEC é um campeonato sem importancia e que não existe vida afora da F1 é de um exagero descabido... se há uma crise e a F1 bate as botas o mundo do automobilismo ia continuar girando normalmente... a NASCAR ainda ia ser mais atrativa e ter público e patrocínios tão gigantes quanto tem hoje... a FE ia continuar existindo e atraindo mais público e construtoras a cada ano... o WEC provavelmente ia ser o caminho que a maioria dos pilotos de F1 iria adotar pois sua tecnologia e competitividade são enormes... se parar pra pensar a F1 vive hoje da atenção da mídia européia (mais a inglesa) e não por que é a categoria de automobilismo mais atraente e sim muito mais por seus dias de glória do passado... tanto que hoje em dia voce ve um carro como a McLaren sem patrocínios, ou a Haas, a Mercedes e a Ferrari que dominam hoje o campeonato com seus carros com poucos patrocínios, a Williams também só tem um... vamos com mais calma... a F1 desde 2013 tem um campeonato pior que o outro em matéria de competitividade, as ultrapassagens (essencia do automobilismo) só acontecem de forma artificial graças ao DRS... temos que ir com muuuuita calma... o passeio do Alonso na Indy já deu um sinal bem claro de que o público que segue os pilotos e não as equipes... creio que com exceção aos tiffosi mas eles não são normais... mas temos que ir com calma... a F1 não está as mil maravilhas, desde 2000 quando a Ferrari inventou de manipular campeonatos a coisa tá feia... e hoje já tá no limite, por isso o Bernie foi atirado pra fora...

Com relação a algumas coisas citadas por voce... eu sabia que o Webber era campeão mundial, o Di Grassi reclama do WEC por que nunca conseguiu vencer lá... e me parece incrível que o pessoal da Red Bull tenha dado chances a Jaime Alguersuari ao invés do Brendan Hartley, o neo zelandes é muuuuuuuito mais piloto... e vou ser sincero, já fui em corrida de F1 e tive o prazer de ir na etapa do WEC em Interlagos... honestamente... é muuuuuuito legal o WEC... é ultrapassagens e disputa o tempo todo... motores V8... carros GT... eu gostei demais...

Alex Couri arquiteto disse...


Esse é o problema; a F1 hoje chatíssima vive do passado glorioso e as categorias mais legais da atualidade Indy e WEC não tem a mídia que deveriam ter para atrair mais fãs.. quadro ruim para o motorsport como um todo.

Unknown disse...

A Indycar dá sono.
O Endurance é pouco acessível.

Bom é a Fórmula 1 que tem dois carros brigando quando muito..
E só foi ter interatividade na Internet em pleno 2017.


Cuidado MOTOGP você é a Próxima.

Unknown disse...

David Félix...em que parte do texto está escrito que não há vida fora da F-1?

Sandro Auzani disse...

A F1 nos últimos anos é um porre. Na primeira corrida do ano você sabe quem vai ganhar o campeonato. É ou não é assim? Nos últimos anos vimos o domínio da Mercedes, então era só uma questão da equipe escolher qual piloto iria ganhar. Este ano temos uma disputa, mas só entre dois pilotos, e os outros pilotos são só coadjuvantes. A F1 tem outra coisa, falta tudo o que a levou ser o que é hoje. Falta paixão, falta piloto bom (só tem pagante), e falta alma de garagista.
No WEC vemos muitas destas qualidades em suas corridas. Tudo bem os LMP1 são muito caros e deverão em pouco tempo acabar, mas olhe para as outras categorias. São todos garagistas que dão tudo que podem para colocar um carro competitivo no grid. Há também muita paixão por carros, são os carros dos sonhos. Quem não sonha pilotar Ferraris, Porsches, Corvetes, Aston Martins e Fords GT40. Sem contar que o nível de competição entre estes carros é incrível, basta ver a chegada da GTE Pro no último final de semana. Quem gosta de Automobilismo está sim prestando mais atenção a outras categorias e cada vez menos a F1.
Corradi você mesmo pode encontrar muito mais assuntos para o seu blog nesta categorias do que na F1 e vai ver que a sua audiência não vai cair, pois todos nós AMAMOS corridas e não só a F1.

Danilo Silva disse...

Existe vida fora da F1 e se a categoria deixasse de existir amanhã choraríamos por uns 15 ou 30 dias e já estaríamos ferozes acompanhadores de Indy e WEC.

Luís Vieira disse...

Excelente texto Corradi, como sempre. É por isso que acessamos e teu blog: opiniões e análises pessoais. Como sempre também, discordamos em relação ao WEC. Na minha visão o WEC é para o fã de corridas: disputas em 4 categorias, estratégias distintas, tensão, pilotos de níveis diferentes, carros de concepções diferentes, equipes profissionais competindo com garagistas apaixonados, muitas variáveis trazendo emoção e imprevisibilidade a cada prova. A F1 é o ápice da tecnologia e da exposição. Orçamentos inacreditáveis, excelentes pilotos, cobertura extensiva da mídia, mas corridas com pouca emoção. É a categoria da fofoca, do boato, é assim que obtém mídia, talvez por herança do Bernie. Sendo generoso, metade das provas são definidas no primeiro treino livre. Até o ano passado era ainda pior, com uma equipe correndo sozinha. Abomino os artificios de ultrapassagem, aquela asa móvel é uma ofensa à história da categoria e ao talento dos pilotos. Seus pilotos não são mais heróis como no passado, como hoje acontece no próprio WEC e, claro, na MotoGP. Não gosto de motos, mas a categoria é espetacular e não perco uma prova. Os garotos são heróis, nada menos que isso. São motos no limite da tecnologia, mas de concepção dentro dos limites do razoável: isso porque os P1 do WEC ou os F1 de hoje não tem correspondência com mais nada do mundo. São absurdamente complexos e caros e na minha opinião dispensáveis. Queria um WEC sem os P1, mas com os P3 no grid. Queria F1 com motores de verdade, com carros que valorizassem os pilotos: de que adianta saber quem está ao volante se quem ganha a corrida é o carro? No WEC talvez seja difícil identificar o piloto, mas é a capacidade dele ao volante e da equipe nos boxes que define a vitória. Ao final são todos heróis, pilotos e equipes. A F1 vai se reencontrar com a sua tradição, acredito na Liberty e no futuro da categoria. E é nesse futuro que os fãs das corridas vão retornar.

Unknown disse...

Silvestre Zanon o Corradi diz em parte do texto...

"...Nada dessa bobagem de que há vida fora da Fórmula 1"

Unknown disse...

David...pois é...eu li. Engraçado que eu entendi essa frase como uma coisa que os pilotos e imprensa em geral sempre "pregam" mas que no caso do Hartley ele ignorou, por assim dizer, metendo a cara no trabalho pra criar uma vida além formula 1. Nem sei se me fiz entender....rsrs.
Grande abraço